6 de agosto de 2010

OS JOVENS DO TORNE, COMO DEFINIR?


Os Jovens do Torne, enquanto ser, sempre foram uma intrusão, sem uma definição concreta, porque esta seria limitadora, no tempo e no espaço. Os Jovens do Torne, foram e são, a pragmática de uma definição activista do desconforto, da luta, da indignação permanente, da solidariedade, do pensamento livre e insubmisso, então, como agora; imorais desde inicio, anti-religiosos, no que a religião possui de paganismo. São e foram, con-criadores duma humanidade outra, por isso são crentes, uns no Jesus Ressurrecto, outros no homem e na mulher libertos, por isso são imorais, e não respeitam a ordem estabelecida, como outrora Jesus, o Senhor.

Eles nascem numa luta, surgida na Igreja Lusitana, Católica, Apostólica, Evangélica, da Comunhão Anglicana, entre o velho ostracismo dum protestantismo enfadonho e um novo pensar, protagonizado por correntes modernas surgidas na mesma Igreja nos anos sessenta, do século XX. São jovens, muito jovens em idade, que comandam as suas vidas, sem chefes, nem deuses, por isso o confronto inevitável entre o “Esforço Cristão”, organização já desfeita, e uma nova aragem no seio da Igreja, com o Ecumenismo por fundo. Esta luta de jovens, que afirmam ser políticos em Igreja, embora a nada pertençam, são o detonador “a bomba”, como chamariam as manas “Pires Chumbo”, do recém bispo Luís Pereira. Eles não são os frequentadores dum salão paroquial, mas dum espaço muito mais largo que é a vida, por isso se distanciam da geração antecedente, e põem à prova a sua adesão a ideais estudantis do Maio de 1968, e dum Ecumenismo nascente em luta contra um estado prepotente, e uma guerra colonial injusta.

Por isso existem infiltrações, de agentes ingénuos, tipo copos de leite, e agentes da polícia secreta. A Igreja Lusitana sente, ao mais alto nível, um carinho especial por estes jovens, ao nível paroquial uma necessidade de controlo, de desmembramento, de querer acabar com essa “seita”, que se chamou e chama Jovens do Torne. Estas duas correntes, uma do protestantismo mais feroz, outra do Ecumenismo livre, defrontam-se, especialmente no Torne, onde são entregues cartas abertas contra o bispo Luís Pereira. Por assuntos laterais é verdade, como a existência de velas ou de alva, como se isso fosse o cerne da criação e de Deus.

É desta luta nascida e mantida por alguns anos, que emergem os Jovens do Torne com propostas inovadoras, por isso existem cristãos anglicanos, católicos e aqueles que nada dizem ser. Há uma consciência muito nítida do que queríamos, é que a Igreja favorecesse o desenvolvimento de uma sociedade baseada na Paz e na Justiça, na dignidade humana e na liberdade e igualdade, éramos jovens de garra, que entendiam o SER ontológico, como Uno e Múltiplo, na senda dos ENTES; a Vida para nós era o fundamental, por isso UPSALA 1968, Congresso do Conselho Mundial de Igrejas, foi imperativo para a clarificação que se queria. Não coloco nenhuma dúvida que as denuncias, que me levaram a ser castigado para a guerra de Angola, provinham do interior da Igreja Lusitana, aliás seria lá, que anos e anos fui persona non grata. Mas isso Jesus também o foi, daí que não me posso queixar, os poderes religiosos, políticos e financeiros estiveram sempre contra os Jovens do Torne, e hoje ainda preferem esquecer um tempo em que a Igreja Lusitana foi realmente diferente, e no seu seio continha todos e todas aquelas que o quisessem.

Lembro-me de uma senhora, daquelas que iam todas as semanas ao cabeleireiro, e era uma cristã de fé, rezando diariamente, rezando não!, caraças, mas orando, dado que rezar era Católico Romano, mas dizia eu, uma senhora que me acusou às autoridades da paróquia que era uma vergonha, haviam jovens, rapazes e raparigas, que se beijavam na boca, atrás das cortinas do palco. Teve azar, penso que eu estava bem humorado, e disse “ainda bem, porque se estivessem a bater-se, teria de chamar a policia”. Mais uma bomba!

Os Jovens do Torne, foram e são é, para mim, uma emanação do Espírito de Deus a actuar sobre uma juventude, e que deixou marcas, em cada um de nós, ou em cada uma de nós, porque nunca fomos inócuos, e cada um à sua maneira, pautamo-nos pela insubordinação e pelos valores de uma sociedade que ainda hoje temos força para construir. E como responsável, bem não havia responsáveis, mas para a Igreja havia!, creio bem que fomos uma “bomba”, que como já disse, os actuais dirigentes da Igreja Lusitana querem esquecer. Mas não podem, porque eles também foram transformados pela nossa actuação, decisiva para a Igreja no conjunto do Ecumenismo, a reconciliação consigo próprios, com o outro e com a Criação. Esta triologia era clara, porque aqui também havia a Trindade.

Nesta laudatória vespertina, os meus queridos companheiros e companheiras dos Jovens do Torne, hão-de dizer, mas o que eram os Jovens do Torne. Eu responderei eram isto, olhem para cada um(a) de nós, irrequietos, politicamente incorrectos, insubmissos, lutadores, ignóbeis, imorais, ainda a pensar que algum dia teremos uma terra onde mana leite e mel! São estes e estas que estão na sociedade, que nunca se libertarão do vírus da Paz, da Justiça, da Liberdade, da Igualdade, da Fraternidade.

É isto, e desculpem se vos desiludi, numa definição, que não faço, porque impossível, dado que ser JOVEM DO TORNE, é isto mesmo, fazer de acordo com a nossa consciência e na luta sempre, na primeira fila, contra o sacrossanto poder seja de que espécie for.

Joaquim Armindo